11 outubro 2011
22 junho 2011
Círculo
- Envelheça comigo - uma mão no meu ombro e outro no meu braço do lado oposto. Pedi que repetisse, não sei se pelo enunciado soar fora de contexto ou se pela vontade de que colocasse a boca perto do pescoço novamente, sei que pedi e ouvi de novo as mesmas palavras. Um pouco de receio tive. Entretanto, controlei o temor e fui extrair o que podia, indaguei: "e como será sua velhice?". Rodeada de pessoas gentis, respondeu, talvez vivendo em uma casa com alguém que amasse, usufruindo daquilo que obtive na vida e nas tentativas de dar a volta em mim mesmo. Foi uma resposta boa, pensei na hora, tomando como inusitado aquele diálogo em meio às mesmices de sempre, as pessoas cantando, dançando e se encarando como cadelas no cio loucas para. Amargura um pouco ver recortes dos passos de lobos encarando seus carneiros que almejam com todas as forças se tornarem lobos por mais que nunca o possam, visto que, uma vez carneiro, sempre carneiro, a vivência de lobo é de algo deveras escura e misteriosa, não a ponto de instigar a descobrir, mas sobretudo naquele sentimento que nos move pela fuga.
Moveu-se pela pista e voltou com uma bebida, o álcool que degrada, instalando-nos mais perto daquilo que chamam de época branca cujo principal hábito será reclamar das músicas altas e sem qualidade dos jovens de hoje, jovens que não fazem nada além de frequentar os mesmos locais, ouvir as mesmas músicas e viver as mesmas sensações, acreditando saber da novidade. Bebeu um gole e perguntou-me outra vez, envelhece comigo? E respondi rápido que nem sei se quero amanhecer com você, quem dirá envelhecer
quem dirá saber de minha vida de depois
como se um baú todo cheia de roupas
onde as traças adoram se meter
formando buracos, armando barracos
sem se esquecer de meus velhos trapos
cujos pedaços em uma era já vesti
e guardo fotos como pequenos recordos
dos bichinhos que em mim já habitaram.
Habitou-me e eu em seu contrário. No meio da madrugada fui-me embora, pensando em que na semana que vem o mesmo lugar teria uma festa boa, e no outro final de semana também; aliás, todo o mês estava perfeito naquele lugar, os donos possuem uma boa visão de negócio...
*
Vários anos se passaram. Nunca mais apreendi qualquer coisa que me fizesse recordar desta noite, até o dia em que, com meu Amor Maior, trocamos juras de eternidade e prometemos morrer juntos sem nos importarmos com as eventuais quedas de cabelo. A vida é uma sequência de ilusões, refleti.
20 junho 2011
Muita felicidade
Somos parecidos nisso, não gostamos de regras nem de médicos. Mas o que pra ti vai ser uma opção, pra mim vai ser uma cruz. A pele vai se modificar, os momentos de dor e fraqueza vão se intensificar, e não vou mais conseguir botar a culpa na umidade ou no excesso de trabalho. Então alguém muito chato me obrigará a ir ao médico e tudo vai ficar claro. Porque a vida não tem nada de maravilhoso, nem de romântico, ela acontece enquanto tu sonha e acaba logo, muito rápido quando se é um grande sonhador. Vai ser tarde, vou me martirizar por nunca ter notado, por nunca ter procurado saber e eles vão dizer que a batalha é difícil, que se tivesse descoberto antes... E eu nunca vou chegar a viver aquela velhice tranqüila e matreira. Vou morrer de câncer tão rápido que só vocês irão se lembrar de mim.
Poeira
19 junho 2011
O mundo dentro de uma caixa - Parte 01
O mundo dentro de uma caixa - Parte 02
14 junho 2011
Das mágoas e pedras
Por desejar muito chorar, entrei em conflitos nos últimos dias.
Quando criança, qualquer tristeza era motivo de choro, e qualquer choro limpava a alma. Chorava até cansar, até doer a cabeça, até pesar os olhos, até esgotar todo sentimento ruim. Até esquecer e voltar a sorrir.
Hoje em dia, sinto um acúmulo de decepções, mágoas e frustrações que pesam feito pedras. Recentemente me peguei tentando forçar o choro, numa vontade enorme de expelir a dor, porque era o que acontecia antes. Não consegui.
Com a idade percebi que nossas mágoas são mais profundas e complexas, mas ao mesmo tempo, são mais fáceis de serem encaradas porque nos acostumados – aliás, o grande segredo da vida, o ato de se acostumar. E, quando finalmente consigo chorar, poucas são as lágrimas, e elas já não lavam mais nem fazem esquecer. Não podendo tirar as pedras de mim, carrego-as como história.
Daí, num dia recente, eu me deparei com mais um desses episódios que sucedem as fases boas da vida. Os dias ruins, os dias chuvosos, as vacas magras - como queiram - estavam por vir. Nada mais cotidiano. A grande diferença, desta vez, estava em mim. Foi uma decepção, não menos dolorosa que as outras, mas que aconteceu sem surpresa alguma. Eu já esperava. Ou melhor, aprendi a não esperar muito da vida e das pessoas.
Então aqui estou eu escrevendo, mais uma vez, por uma mágoa sem lágrimas que não passa, só se esconde. E esperando que ela também se solidifique através do fator - outrora o choro - que mais me castiga porque mais demora a reagir, o tempo.
13 junho 2011
pa papa pa pa
12 junho 2011
A guerra.
Qualquer ruído seria esclarecedor. Prova de choque.
Olhei para o relógio. Apontava perigo.
Olhei para os dois lados em busca de inimigos. Mesmo aqueles que se pareciam fora de rota. Muito suspeitos.
Se demonstrassem interesse, sairia correndo. Não era fuga, era vitória.
As armas: sabonete e toalha.
Tomar banho às 22h numa casa de estudantes não é fácil.
"Vem cá, bom menino!"
Não que eu os odeie. Simplesmente não sou fã. Tanto é que eu reconheço suas qualidades.
São bichinhos peludinhos, que geralmente cabem no colo.
São manhosos, tomam leite, são levinhos.
São quentinhos e limpinhos que se enrolam nas cobertas.
E ainda brincam com lã na maior delicadeza.
Mas ontem vi minha irmã chorando porque o gato dela fugiu. Me contou angustiada que essa era a terceira vez que ele fazia isso. Limpando as lágrimas com as mãos trêmulas ela ainda falou que não saberia o que fazer se acontecesse alguma coisa com seu amiguinho peludo.
--
Nossa conversa aconteceu um pouco depois de eu ter chegado em casa e, como de costume, ter sido recebida por um rabinho abanando e a língua de fora do meu vira-lata chamado Scot.
Chocolate ou cerveja?
Fiquei pensando, se fosse pra dizer, chocolate ou cerveja?
Chocolate tu come.
Cerveja tu bebe.
Chocolate dá espinha.
Cerveja dá barriga.
Chocolate pra lembrar.
Cerveja pra esquecer.
Chocolate é Tpm.
Cerveja é qualquer coisa.
Chocolate de qualquer jeito.
Cerveja só gelada.
Chocolate dor de barriga.
Cerveja dor de cabeça.
Chocolate dá peso.
Cerveja consciência pesada.
Chocolate preferido.
Cerveja em promoção.
Chocolate no frio.
Cerveja no verão.
Chocolate é desculpa.
Cerveja, desculpa.
Chocolate.
Cerveja.
Cerveja e chocolate.
31 maio 2011
15 gatos e uma cozinha grande
- Mas o que te faz pensar que eu quero sair de onde moro?
- Não sei, tu vive a reclamar do teu irmão e das bagunças dele, achei que quisesse.
- É, isso me atrapalha. Mas fora isso, não é tão ruim assim. Sairia daqui apenas pra morar em uma casa com 15 gatos.
- Então, se eu ganhar na loteria, te dou uma casa com um gatil nos fundos. E uma cozinha grande, e uma sala de TV com acústica de cinema. E um ofurô.
- Mas porquê tudo isso?
- Quero que nossos amigos venham jantar na cozinha grande. Depois assistimos a filmes bons, bebendo vinho, e rindo na cara da vida.
- Como assim? Decidiu agora que vai morar comigo? Rindo na cara da vida, onde tu aprendeu essa expressão?
- No mesmo lugar onde tu aprendeu a ser a chata que questiona tudo.
Aquela dúzia de vacas
Visite todas as vacas da Cow Parade em PortoAlegre, fotografe, e envie para nós. Presentearemos todos que completarem essa tarefa com uma cesta de produtos da nossa linha de laticínios.Era uma piada, ela enviou porque achou absurdo que alguém se daria ao trabalho de dar voltas pela cidade, durante dias, fotografando vacas. Ele tomou como um convite.
Como ela não sabia dizer não a ele, e sentia saudades da época que eram próximos, aceitou. Andaram durante toda tarde pela cidade, fotografaram muitas vacas da zona norte e do centro de Porto Alegre. Conversaram sobre todos os assuntos que ainda pudessem ter.
Antes que marcassem uma segunda tarde de perseguição às vacas, a promoção foi cancelada. De toda forma, não ganhariam o prêmio.
Ela apagava as fotos, com esperança de que o passeio durasse para sempre.
Hersheys.
De que adianta?
Com nozes, avelã ou passas.
Pra quê?
Branco, napolitano, amargo.
Amargo.
O único sabor que conheço.
Café da manhã
Chegaram correndo ao shopping, com medo de perder a sessão. Por sorte, quando entraram na sala, recém iniciava as propagandas antes do filme. Ele correu ao bar do cinema e voltou com seu refrigerante e uma barrinha de chocolate Suflair para ela. Ela desejou durante todo o filme que ele a abraçasse, segurasse sua mão, encostasse a cabeça em seu ombro, mas nada aconteceu.
O filme era ótimo, aquele último do Almodóvar que os amigos tanto comentavam, e eles saíram discutindo animadamente da sala do cinema.
A caminho da casa dela - a carona de volta, ele avisa que precisaria passar antes em sua empresa, porque havia esquecido umas compras por lá. Subiram juntos, ele queria que ela conhecesse onde trabalhava. Ela não sabia como se portar, se era certo ou não elogiar, mas mesmo não sabendo, deixou claro que havia gostado de conhecer o lugar. Ela não esperava mais por nenhum tipo de intimidade, apesar de secretamente desejar. Haviam decidido ser só amigos. Na verdade, ele havia decidido e ela acatou.
Depois de conhecer tudo, ele busca sacolas de supermercado na cozinha da sala comercial, e comenta:
- Comprei isso para o teu café da manhã.
26 maio 2011
22 maio 2011
Tudo é tão feroz e doentio
Você não pode deter a iminente tomada de pânico após ouvir o diagnóstico. A morte é algo que provém do irracional, então todas as palavras que com ela caminham trazem a nós a perda de controle, além da incerteza sobre nossa real relevância neste mundo. Foi absolutamente detestável a aparente comoção do médico, escondendo um enraizado desleixo, ao mostrar-me os exames. Crescimento de células jovens, é preciso de um tratamento imediato, comunique a sua família, por favor, você precisará de apoio, não será fácil a partir de agora, é uma doença que costuma acometer os novos tanto mais quanto os velhos. Como foi detestável a sua autoridade medicinal, asséptica; de bigode branco me encarando jovem; quantas mortes ele já testemunhou? e deve estar matutando se durarei ou não, como hei de ser sem meus cabelos, se capaz de extrair um profundo sentido com a aproximação da Bela.
Mesas de vidro sempre me deixam deveras nervoso, toda a exposição das pernas em uma sedução fantástica, a maneira de cruzá-las e colocar a postura, o modo de apresentar-se perante um desconhecido, encaixando braços, as mãos juntas ou uma em cada perna. Ao saber-me com câncer, detestei ainda mais a minha desnudação para um velho de bigode branco. Ele se tem com o poder, visto que é quem conhece do meu corpo sem nunca o ter visto, sabe da minha postura porque conhece centenas de outras que já passaram por sua sala do nono andar e, mais do que tudo, sabe do meu fim porque sabe da minha vida. Meu corpo me trai e me mostra a um qualquer, ele é um qualquer, doutor asséptico e prepotente, com bigode e avental brancos, a mesa envidrada e a estante de madeira de reflorestamento cheia de livros médicos e do Moacyr Scliar, provavelmente alguém em quem se espelhou enquanto estudante. Naquele consultório em uma tarde chuvosa de maio eu pude ter nojo do mundo, porém muito mais do doutor à minha frente: na cadeira dura eu fazia o papel de um doente terminal. Só isso que eu era, todo o resto atirado às favas; jovem, universitário, tenho pai e mãe e um irmão do qual nunca fui amigo... eu cheio de amigos que me confortam e me agregam, sentindo o nexo da vida a partir dos meus sentidos que me passam a perna, coitados e infiéis, me traindo e me matando com a multiplicação de células blásticas que pouco a pouco vão me tomando a medula óssea, matando e matando e matando; a partir de agora a morte no cangote.
Vontade de sair dali e me atirar no chão da sala e chorar até ficar em uma pose miserável, uma mão sustentando o corpo e a outra apertando o peito, o pranto tão grande que o choro mal sai, a boca só abre e resta o silêncio da passividade em relação a tudo o que abraça, cachorros que me lambem e fazem ruídos que lembram miados e eu juro que tudo o que queria era voltar ao momento em que abria uma barrinha de chocolate antes de entrar no consultório branco, asséptico, alegre ao degustar a gordura e o cacau na embalagem colorida da vaquinha que dá leite, tudo é tão sagaz e doentio, efêmera a minha fala que, não posso postergar, tenho certeza de que não ficará, minha existência fadada à memória dos outros. Nunca gostei de depender de alguém além de mim mesmo e agora é comigo que não posso contar. Será que o cobrador do ônibus que pego dará falta por mim quando eu morrer? Talvez devesse dar um presente para que se rememore, é egoísta, sim, mas o que é a natureza, não exijo que se lembre de minha pessoa, meus traços e maneira com que punha a cabeça na janela, só que rememore daqui a um, cinco anos, que um jovem desconhecido um dia deu-me uma barra de chocolate e foi tão educado, como há pessoas boas no mundo. Que ele ainda mantenha esperança no mundo porque a minha vai fadar e fadar com a existência.
Acho que não duro muito, o tom de voz usado pelo doutor não me deu muita esperança. Espero pelo menos que isso não seja fruto de uma personalidade doentia que se agrada em testar maneiras com que desconhecidos recepcionam a morte, talvez ele tenha um caderninho com nomes daqueles que sobreviveram, quem há de saber? Tantas vezes que disse a a palavra câncer mas nunca soube efetivamente o que é, jamais experimentou a degradação da carne e do ser, a angústia da espera, da certeza de algo que chegará mas não se sabe quando. Quando pequeno, impacientavam-me muito os dias anteriores à viagem de férias, qual a praia a ser escolhida, a ansiedade em fazer a mala e escolher o que levar para o outro lugar. Hoje, mais velho e com mais paciência, fico outra vez à espera da viagem sem saber o que colocar na mala. Angústia que raiva e dilacera, como eu queria voltar a degustar o chocolate da mesma maneira com que degustava dias atrás...
19 maio 2011
o prédio mais alto
17 maio 2011
As coisas que eu mais amo na vida!
As coisas que eu mais amo na vida são café e chocolate. Poderia dizer que é a cafeína, por ser o mínimo múltiplo comum entre eles, mas não me parece tão poético.
Claro que meus prazeres não acabam aí. Vivo uma ânsia diária insassiável por conhecimento, que me consome a cada nova descoberta, nunca cessa, nunca me satisfaço.
‘’Sem fastio, com fome de tudo’’. Tendências consumistas? O que for, são os três ‘’cês’’ como alimento de organismo e de alma. Meus três vícios.
Pensando nisso, descobri que meus dias têm sido à procura dos meus pequenos prazeres enquanto deles me alimento. O café e o chocolate, comprovadamente estimulantes, tiram o meu sono, eu anseio conteúdo, logo, vou atrás de novidades sobre música/cinema/pessoas/livros/festas/moda/qualquer coisa que me interesse, regado a mais café e (quem dera, antes fosse) mais chocolate.
Os três, diariamente, num círculo vicioso, numa rotina incansável.O que soa irônico, para quem odeia rotinas, essa é a única que consigo manter, a única que eu suporto, e é aí que se encontra a mais sublime designação de amor.
A conclusão dentre tantos cafés, chocolates e conhecimento – ou a busca por – (isso que eu nem citei os chás) é a de que pareço uma louca velha mal-comida e que nesta vida me falta um Cadu.
do meu direito de ouvir
Uma bola de pêlos. Enfiei uma bola de pêlos na boca dela. E ela se calou. E eu pude voltar a ouvir.
16 maio 2011
Charlie
Pensa também em um gato carinhoso. Branco, pelo longo e macio de angorá, te segue pela casa, pede cafuné e dorme enrolado nos pés da cama.
Agora imagina esses dois gatos em um só. Adiciona a ele uma adorável patinha com curativo.
Esse é o Charlie.
pretinho
eu chego em casa as 10 da noite e ele vem correndo de longe, com aquele passinho manco, e lambe a minha mão como se tivesse gosto de açucar
eu me preocupo se ele vai ter comida amanhã
eu ficou extremamnete feliz quando vejo outra mão sendo lambida
eu gosto muito quando um potinho d'água pousa na frente de um portão
ele, se fosse gente, seria daquelas pessoas que se dá bem com todo mundo
ele corre atrás das motos que passam na rua
nos dias de chuva prefiro não vê-lo, assim penso que ele tá abrigado e sequinho
ele usou uma roupa que era bem menor que ele, vermelha
ele rola na areia com outro que precisa tanto de carinho como ele
ele chora quando tem um amigo indo pra lá e eu indo pra cá, chora pela escolha que tem que fazer
ele me acompanha até a parada
ele tenta entrar no meu quintal
agradeço porque tem gente que gosta dele tanto como eu
ele já não aparece mais todo o dia como antes
agora, quando me vê, ele vira a cabeça pra ver quem sou eu
ele tá ficando um adulto que tem que se virar
agora sou eu que quase choro quando ele não lambe a minha mão
aquele cachorro me despertou um sentimento tão bom
eu agora é quem fico triste porque vou sozinha pra parada
aquele pretinho
Furby
14 maio 2011
Oh, mundo cruel./Meow, é isso aí.
Pêlos brancos e pêlos pretos. Curtos e longos.
Patas sujas de lama e sangue de preás.
Rabos cheios dos famosos pega-pega e também de carrapichos.
Miados agudos que não irritam nem um pouco.
Línguas ásperas que pedem comida e dão carinho.
Garras que não têm ciência de sua agudeza.
Ronrons tão fortes quanto o motor de um caminhão.
Peitos subindo e descendo lentamente enquanto eles dormem na minha cama.
Quatro pequenos anjos que surgiram na minha vida.
Graças a pivetes sem coração.
10 maio 2011
Vani, a heroína da noite que não sabia voar
07 maio 2011
Nos fundos da casa, espontâneamente, ao fim da tarde...
Fin.
04 maio 2011
era um[a] casa[l] muito engraçad@:
Ato 1 - I wanna live alone
Acho melhor eu ficar aqui e você sair.
Sim, eu quero morar sozinha, vai ser melhor para você e para mim, se ver todo dia é foda, não sei como lidar com isso, só sei que não quero a vida dos meus pais e nem a dos meus avós. Eu quero morar sozinha e ir te visitar nos finais de semana! Já pensou que legal? Eu te convido para jantar aqui, tu me convidas para ir assistir um filme aí, ia ser massa, a gente ia curtir muito, nosso namoro ia durar pra sempre. Não sei se para sempre, mas por um tempo, com certeza mais tempo do que se a gente continuar nessa casa junto. E depois, eu vou mesmo comprar aqueles tapetes e cortininhas de cerejinha, eu sei que tu não gostas deles, que tu achas muito brega. Eu quero morar sozinha e fazer as coisas do meu jeito.
Ato 2 – you could have it so much better
03 maio 2011
Conversas de bar
Há hera em algumas de suas paredes brancas, escondendo as rachaduras como rastros do passado, mas não a deixando menos bonita. Do contrário, a minha curiosidade aumenta a cada nova fresta encontrada.
Não há grades, nem muros. O quintal é grande, e abrangeria muitas pessoas. Cheio de árvores e densas sombras por elas produzidas, possui um frescor de primavera.
Uma casa bela, que te convida a entrar, mesmo não sabendo muito bem a quem pertence e que história guarda.
E aqui, do outro lado da rua, a outra casa escura e cerrada a comtemplá-la.
01 maio 2011
Maio
30 abril 2011
Minhas sinceras desculpas.
29 abril 2011
[casa]
26 abril 2011
Porto Alegre, 21 de abril de 2011, Mundo
Linha T1 Direta, sentido Sul/Norte.
Louco, preto, fedorento e esfarrapado, entra no ônibus e passa por baixo da roleta.
Cobrador, funcionário, branco, uniformizado, tenta impedir com gritos e pontapés.
Ônibus para.
Motorista, macho, branco, cabelo penteado, agarra o louco fedido pelo braço e força sua saída.
Todos calados.
Menos o louco e o motorista.
E a senhora, que se levanta dizendo que tal atitude era desumana.
E o cobrador, respondendo que desumanos são os passageiros que ligam para as empresas de ônibus reclamando que pessoas mal cheirosas têm entrada livre e gratuita nos coletivos da cidade. Que desumano era como o chefe dele dava esporro após as ligações. Que desumano é o sistema que os obriga a viver aquela situação. Sistema que criou o louco, que criou o chefe, que criou a obrigação.
Todos calados.
Menos o louco.
25 abril 2011
Minhas casas
Um portinho alegre
20 abril 2011
Minha Casa
16 abril 2011
Carrego Porto Alegre em mim
E no fundo que eu diga sim
Porém não vou dizer assim
Queria mas não posso falar
Mais por não ter um certo lar
Mas ninguém tem efetivamente um lar...
Só o mesmo céu e as estrelas
E como eu queria que Porto Alegre em mim crescesse
E como eu queria que eu crescesse...
No fundo só um menino desejando brincar
E dançar nas ruas da pequena Capital
Tudo teatral e melodrama
Todos choram. Todos amorosos e simpáticos
Como se Deusinho desatasse o bom-humor
E como gosto de pessoas e sua dor
Às vezes dá vontade do abraço
Só pra carregar a Porto Alegre no meu peito
Tristeza é longe e a razão parece mais
Hoje não represento mais o "eu". Hoje sou todos
Sou a Capital e todas as suas luzes
A piada boba, o namoro na TV
O casal no parque, a velha chorando no cinema
Hoje sou ninguém
Posto isso sou todos
Só posso escrever pra desinchar
E verter de mim as pessoas que me fazem
E como eu queria que as pessoas desfizessem
O mal que as atormenta até o final
No fundo só esperam que eu diga o sim
E eu queria dizer sim...
Queria mas não tenho um certo lar...
porto-alegrense
14 abril 2011
vou-me embora
te enrolei por muito tempo.
me menti por mais ainda.
aqui não sou de verdade.
não assumo opinião.
não alimento as vontades.
vivo a esfregar teu chão.
vou-me embora deste vício.
sem moral e compaixão.
fiz de tudo que é errado.
me tornei um belo cagão.
vou-me embora pra me achar.
e não me perder jamais.
vou-me embora pra Porto Alegre.
e lá pretendo ter paz.
outono
esfria
chove
chora
molha
empoça
enlameia
venta
seca
descabela
rebela
reinventa
levanta
encanta
dança
ilumina
esquenta
ameniza
alivia
suspira
sorri
e sonha
antes de dormir.
(Meu coração é Porto Alegre)
12 abril 2011
Despretencioso
- Isso foi criado (mesmo!) dentro de um ônibus. Inspirado em momentos antes, ainda na parada de ônibus. Numa sexta-feira chuviscosa. Pouco após meio-dia. A parada fica perto de uma escola, e algumas crianças ainda estavam ali, tomando chuvisco na mente, à toa. Afinal, era sexta-feira. E eis...que no meio da parada...Um senhor, muito parecido com aqueles peruanos que aparecem no meio do centro da cidade para apresentar as músicas de sua cultura. Mas, esse homem tinha estilo. Cabelo rabo-de-cavalo...e uma viola. De nylon. À tira-colo. Quando cheguei, ele estava tocando, despretensiosamente. E eu, muito admirado como sempre com os artistas de rua e principalmente com quem faz musica, fixei o olhar e curti o som. Fiquei do lado dele. Entre um dedilhado e outro... Ele começou a tocar o clássico do Dire Straits: "Sultans Of Swing". E comecei a viajar na vibe do cara... Á minha frente, pessoas... Transeuntes despretensiosos fugidios à chuva com seus guarda-chuvas. Mais à frente, o movimento caótico dos ônibus e carros. Ainda mais à frente... As gotas de chuva. E tudo isso numa paisagem cor de chumbo das nuvens... Ahhh, e o som... E eu viajando... Pensando na cidade... Olhando as gurias (tão... mas tão lindinhas) passando pra cá e pra lá... Pensando em como Porto Alegre é encantadora. Despretensiosamente, encantadora.]
Mas é nessa poesia que resguardo
A beleza da cidade
Que faz as vezes de um quadro
No olhar vívido, da multiplicidade
Onde cantam alegrias
Que a memória i'nda guarda
N'um bocó de poesias
Construída em cada quadra
A caneta que não cansa,
No papel que quase acaba.
Onde faz juras de lembrança,
E não para de mima-la
Neste ônibus tardio
o violeiro se despede,
Num dedilhar que não se mede,
E desse som que me arrepio.