22 junho 2011

Círculo

Dançávamos Kids do MGMT em meio a todas aquelas pessoas que em frívolo julgamento aparentavam ser todas iguais, uma forma maniqueísta de ver caso tomemos a semelhança de suas roupas descoladamente alternativas e os cabelos levemente arrepiados enquanto dançavam, cantavam, estendendo as mãos para cima ao iniciar uma música nova enquanto as luzes chacoalhavam em um frenesi aquático. Nós também chacoalhávamos, não tanto em frenesi porém mais em uma sedução, visto que há uma diferença na dança da sedução do que naquela de apreciação dos sons. Quando se seduz, a cabeça move-se mais lentamente como se uma câmera cinematográfica desse close nos menores detalhes do pescoço, além de geralmente também se olhar para cima como se se invocasse alguma força misteriosa de dentro, talvez algo assim profundo..., a ponto de mexermo-nos lentamente como se não milimetricamente planejássemos cada passo, olhar, toque, palavra no ouvido que, mais do que nunca, sabemos que é dita qualquer bobagem sem o menor sentido senão o de colocarmos a boca no ouvido à espera de que o jogo da luxúria frua como a música que custa a sair do corpo, uma energia flutuante que faz os pés queimarem precisando sair do chão. Uma de suas palavras, contudo, quebrou meu estado de automaticismo, era qualquer coisa como:

- Envelheça comigo - uma mão no meu ombro e outro no meu braço do lado oposto. Pedi que repetisse, não sei se pelo enunciado soar fora de contexto ou se pela vontade de que colocasse a boca perto do pescoço novamente, sei que pedi e ouvi de novo as mesmas palavras. Um pouco de receio tive. Entretanto, controlei o temor e fui extrair o que podia, indaguei: "e como será sua velhice?". Rodeada de pessoas gentis, respondeu, talvez vivendo em uma casa com alguém que amasse, usufruindo daquilo que obtive na vida e nas tentativas de dar a volta em mim mesmo. Foi uma resposta boa, pensei na hora, tomando como inusitado aquele diálogo em meio às mesmices de sempre, as pessoas cantando, dançando e se encarando como cadelas no cio loucas para. Amargura um pouco ver recortes dos passos de lobos encarando seus carneiros que almejam com todas as forças se tornarem lobos por mais que nunca o possam, visto que, uma vez carneiro, sempre carneiro, a vivência de lobo é de algo deveras escura e misteriosa, não a ponto de instigar a descobrir, mas sobretudo naquele sentimento que nos move pela fuga.

Moveu-se pela pista e voltou com uma bebida, o álcool que degrada, instalando-nos mais perto daquilo que chamam de época branca cujo principal hábito será reclamar das músicas altas e sem qualidade dos jovens de hoje, jovens que não fazem nada além de frequentar os mesmos locais, ouvir as mesmas músicas e viver as mesmas sensações, acreditando saber da novidade. Bebeu um gole e perguntou-me outra vez, envelhece comigo? E respondi rápido que nem sei se quero amanhecer com você, quem dirá envelhecer

quem dirá saber de minha vida de depois
como se um baú todo cheia de roupas
onde as traças adoram se meter
formando buracos, armando barracos
sem se esquecer de meus velhos trapos
cujos pedaços em uma era já vesti
e guardo fotos como pequenos recordos
dos bichinhos que em mim já habitaram.

Habitou-me e eu em seu contrário. No meio da madrugada fui-me embora, pensando em que na semana que vem o mesmo lugar teria uma festa boa, e no outro final de semana também; aliás, todo o mês estava perfeito naquele lugar, os donos possuem uma boa visão de negócio...

 *


Vários anos se passaram. Nunca mais apreendi qualquer coisa que me fizesse recordar desta noite, até o dia em que, com meu Amor Maior, trocamos juras de eternidade e prometemos morrer juntos sem nos importarmos com as eventuais quedas de cabelo. A vida é uma sequência de ilusões, refleti.

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