19 maio 2011

o prédio mais alto

Fico pensando na aproximação. Se a gente chegasse mais perto. Encostasse as mãos e falasse do que não fosse programado - do que não fosse esperado que nós falássemos. Ele é alto, vê as pessoas de cima. Como será? Não será como subir no terraço do prédio mais alto. Mas a distância - a mesma? Entre nós. É programado. Nossas palavras, os sons que nós emitimos chegando aos ouvidos do outro, os lábios abrindo e fechando, as línguas mexendo-se na boca, os olhos passeando como sentissem medo de se encontrar e ali permanecer, os movimentos calculados que dão certo pra ele e errado pra mim. Mas é programado. O coração batendo rápido era mentira, imaginação. E acreditar na imaginação torna-se a verdade imaginária. Também são verdades. Mas o coração batendo era mentira. Visto por uma fresta, entre as portas e as janelas. E a pele morena e as roupas pretas. Passeando de longe logo ali. Eu fico pensando nos encontros. Se a gente criasse uma relação diferente, em que o que nós somos programados para fazer não existisse. Se a gente dissesse. E ouvisse o mesmo som de uma noite. Se a gente tocasse. E sentisse a mesma textura que emana das vozes graves suaves. Não saímos da linha por um instante. E se saímos - eu não sei. Como seria? Prazer. Como chocolate.

2 comentários:

  1. Lindo texto! "E acreditar na imaginação torna-se a verdade imaginária. Também são verdades"

    Confesso que rolou uma identificação com o texto, gosto quando as histórias são contadas pelas sensações.

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  2. Que coisa bonita de se ler. É engraçado que depois do Roda Vivinha fica ainda mais interessante ler tuas coisas. Li e deu pra ouvir tu lendo em voz alta. E essa frase que a Nata colocou aí em cima, não ficou só uma frase. Eu li, depois reli e me fez parar e pensar.
    Muito bom! Adoro frases que geram coisas.

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