09 maio 2010

Quase emprego

Olha, quando eu saí do quase já nem lembrava porque tinha ido parar lá. A Judite, irmã do marido da minha prima de segundo grau foi quem inventou tudo, eu nem sabia no que estava me envolvendo. Ela era a mulher dos contatos, comunicativa, otimista, loira, peituda e intrometida. Não que ela fosse má pessoa, era só... A Judite.
Talvez você não esteja familiarizado com esse tipo de pessoa, por acaso já conviveu com alguém assim? Ainda não consegue visualizar o tipo de pessoa que era a Judite? É, isso que dá escrever, se eu mostrasse uma foto talvez pudesse ajudar, mas acho que a foto da Judite não transmite o que ela realmente é, teria que ser uma foto muito boa, feita por um profissional qualificado, ou com uma boa câmera. A minha é meio velha, digital, mas sem frescuras. Eu adoro fotografia, longe de mim criticar as novas tecnologias, mas é uma loucura ver gente com uma baita câmera tirando foto pra botar no Orkut...
Agora lembrei, a Judite tem Orkut! Sim, é bem mais fácil conhecer ela por lá, porque dá pra saber dos gostos da pessoa, e dos amigos também. Vai que você conhece a Judite e nem sabe? Se bem que o Orkut é muito superficial, e não dá pra ver, realmente ver como ela é.
Assim, a Judite gosta muito de gente, ela fala tocando nas pessoas, sabe? Segurando o braço, o ombro. Ela encosta, ela toca, ela quer sentir a outra pessoa, por isso quando fala parece que tá entrando assim, dentro dos nossos olhos, de tão intenso e próximo que é o olhar dela.
Isso não é tão incomum assim, sempre tem alguém mais intimista no grupo de conhecidos das pessoas, os mais tímidos não gostam desse tipo de pessoa, “é muita aproximação”. Mas vai falar isso pra Judite! Ela representa a aproximação...
Bom, nem tanto assim, porque eu acho que ela não se aproxima de verdade, assim, de verdade verdade, de ninguém. Se fosse assim ela não teria se separado mais de quatro vezes. É, ela é muito ativa, não pára quieta!
Foi um antigo namorado dela que me ligou pra conversar, disse que ela tinha passado meu número pra ele. Renan, eu me lembro dele, um careca, alto e meio musculoso. Não era feio, mas ela não gostava porque ele lambia a orelha dela. Eu também não gosto dessa coisa de lamber a orelha. Dizem que é bom porque a orelha é um órgão sexual, mas eu não acho. Orelha é uma coisa meio suja, com gosto ruim... Não que eu já tenha lambido a orelha de alguém. Como se eu pudesse também, meu último namorado não deixava nem eu mexer no cabelo dele pra não bagunçar, imagina lamber a orelha! Pois bem, Renan, o lambedor de orelhas, me ligou pra ver se eu estava interessada. Não na lambida, mas em um trabalho.
Ele trabalha em uma firma de computação. Nunca sei o que uma pessoa faz quando me diz que trabalha em uma firma de computação. Aliás, alguém sabe o que uma pessoa que trabalha em uma firma de computação faz, durante 8 horas, lá? Enfim, ele “trabalha” lá. Eu não conseguia entender o que poderia ter de trabalho pra mim, porque eu mal sei usar o computador, além das funções básicas. Mas ele me chamou, disse que a louca da Judite tinha me indicado pra um cargo lá no trabalho de computação dele e como nenhuma vaga pro meu perfil estava disponível ele me passou pra um contato em outra empresa.
Eu não sabia se aceitava ou não, “é história da Judite!” minha irmã dizia, mas eu achava que algo podia dar certo, e fiquei de ligar pra lá. Passou uma semana e eu ainda não sabia se ligava ou não. Era uma editora, pelo que o lambedor tinha dito. Eu não poderia trabalhar em uma editora, sou muito burra pra isso. O meu ex me disse que eu não sei ler mais que Sidney Sheldon e que eu era muito burra, por isso que ele foi embora. Mas a minha prima de segundo grau me garantiu que não tinha que ser muito inteligente pra conseguir a vaga... Foi aí que eu liguei...

Mas não consegui o emprego. Tinha que escrever o nome de cinco livros extrangeiros e falar um pouco da história. Mas não podia repetir... Quando eu disse que não sabia o que escrever e que por isso ia desistir da vaga, o moço me disse: “que pena, com esses contatos que você tem, quase conseguiu o emprego...”

3 comentários:

  1. Muito bom o texto, muito engraçado. Nata cada vez melhor. E a mulher naum paaaaara de falar e atravessa os assuntos e meudeusdocéu!!!

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  2. heheh. Cara, muito bom! Eu tenho problema pra fica lendo textos muito longos, mas esse é daqueles textos que vai te puchando, te levando pra lá e pra cá...Da uma agunia! hhehe, mas uma agunia boa, que a gente quer saber no que que vai dar a historia da tal judite heheh. Muito Bacana! Muito bom! Gostei muito^^

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