13 dezembro 2009

Frio

Respirou fundo. Sentiu o ar frio entrar pelo nariz, passar pela garganta e alargar suas costelas, enchendo os pulmões.
Respirava fundo todas as vezes agora, esperando para ver quando seria seu último suspiro.
Em seguida sentiu o ar quente saindo pela boca, esvaziando o seu corpo, levando o calor que lhe restava nas entranhas.
Olhou para o lado, viu o pote. A vista já estava embaçada. Quantas tinha tomado? 10? 20? 30 cápsulas? Desistiu de lembrar-se, o importante é que tomara o suficiente.
Olhou para a janela, o sol machucou seus olhos, mas continuou olhando pra fora, para toda a imensidão que não veria novamente. A neve caía lenta, calma, tranqüila...
Respirou novamente, o frio ficava mais intenso, sentiu um calafrio, começava pelas costas das mãos, subia os braços e as costas ao mesmo tempo, até a nuca. Tremia. Temia.
As manchas de tinta em suas mãos, de cada uma das cartas escritas. Cada uma era uma tentativa de explicar o que todos considerariam inexplicável.
Alguns flocos de neve entraram pela janela aberta. Tentou tocá-los, mas a vista embaçada não lhe permitiu.
Mais uma lufada de ar frio invadiu seu quarto e em seguida seus pulmões, mais um arrepio, e mais uma expiração quente levando um pouco de alma.
Sentia dor de cabeça agora, tontura. Ficou feliz, era um sinal de que tinha feito tudo certo.
Acomodou-se melhor na cama, puxou o cobertor, o frio agora era insuportável. Sentia que estava congelando de dentro para fora.
Respirou fundo novamente, com todas as forças, buscava ar, mesmo que fosse o ar gelado e cortante daquele inverno. Encheu os pulmões, alargou as costelas e expirou o que lhe sobrava de ar quente daquele corpo, da sua alma.
Enfim, o último suspiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário