13 dezembro 2009

Disfarce

Paulo era um viciado em adrenalina desde garoto. Começou a andar de skate ainda pequeno. Com 10 anos ele já fazia as manobras mais arriscadas, e com 13 as rampas de seis metros já estavam perdendo a graça.
Na adolescência começou a surfar, mas não surfava em qualquer praia, queria as maiores ondas, e viajou o mundo inteiro atrás delas. Uma vez ele chegou a ir para o hospital, tinha ficado três minutos submerso e estava inconsciente. Voltou a surfar uma semana depois de receber alta.
Praticava todos os tipos de esportes radicais, pulava de pára-quedas em um fim de semana e de bungee jump no outro. Durante a semana ele dava aulas de vôo com asa-delta, até trocar de emprego porque esse já tinha ficado monótono.
E não parava por aí, ele também adorava animais perigosos. Alimentou tubarões na Austrália e adorou a temporada que passou na África cuidando de guepardos e leões. Seu animal de estimação era uma sucuri de quatro metros, que dormia ao lado de sua cama.
Paulo era famoso, principalmente graças às suas façanhas como pular das cataratas do Iguaçu em um barril. Alguns o chamavam de doido, outros de corajoso, e muitos não se importavam. Um dia um repórter lhe perguntou:
-Qual a sensação de fazer tudo isso?
-É maravilhoso, eu me sinto livre!
-E você não tem medo?
-Não.
Foi aí que um dia, inesperadamente, ele morreu. Os jornais sensacionalistas publicaram a manchete no dia seguinte: Paulo ficou preso em um elevador que enguiçou e teve um ataque cardíaco fulminante. Era claustrofóbico.
A coragem é o melhor disfarce do verdadeiro medo.

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