03 maio 2009

E porque não falar dos porcos

Epidemia, pandemia, nível cinco, seis, tanto faz. Eu vejo a música como uma epidemia, uma epidemia que ainda não acabou e que não tem previsão de vacinas nem de antídotos. Essa epidemia que se espalha como espirro dentro de elevador e tosse em sala de aula.
Acredito que no início esse vírus da música começou com alguém que estava cansado do silêncio, que viu e ouviu no som das pequenas coisas algo que podia ser belo. Ouviu o que ainda não tinha som, e transformou-o em melodia. Podia ser triste, feliz, dramática ou qualquer coisa, mas que tinha ritmo. O ritmo podia ser rápido, lento, com batuque, sem batuque, com cordas, sem cordas. Mas melodia, ritmo, algo que mexesse com a alma, que a transformasse, que a enchesse de coisas. Coisas boas, ruins, mas enchesse. Que suprisse certos silêncios, que a tratasse bem. Algo com que pudesse se expressar, para falar de si, das coisas, do mundo, ou só pra falar. Mas falar, transmitir. Assim como o virus, passar de um por um até que todos pudessem compartilhá-la. Essa epidemia que foi crescendo com reagge, rock, pop, indie, grouge e todas as categorias e subcategorias que você pensar, e principalmente, quiser.
E aí fico pensando no que virou a música hoje em dia. Se ela é feita mais para encher a alma ou o bolso de quem a cria. E olha que Guy Debord já falava da tal Sociedade do Espetáculo há tempos atrás. Acho que muito se perdeu nessa modificação do vírus música. Perdeu o que sempre acreditei ser o principal, a expressão das pessoas, e ainda, a intenção destas. Sempre vi a música como forma de expressão, por isso não condeno o funk e essas músicas que tanto fazem sucesso no youtube. Não iremos e talvez, (já explico meu talvez) não podemos comparar Bethoven (e agora ele se revira no túmulo) com "cada um no seu quadrado" em termos técnicos e de conhecimento, mas os dois estão no mesmo patamar (e agora que caiam raios da minha cabeça) na questão da expressão. E é isso que me consola ao ouvir as músicas que tocam nas rádios hoje em dia (na maioria delas), a musiquinha que rima com bonitinha e assim vai. Ambas querem dizer algo. Eu sei que estou pensando positivo, tentando achar alguma coisa útil que possa ser considerada na música "Cada um no seu quadrado" por exemplo, mas as duas queriam falar alguma coisa, se expressar, falar a quem quisesse ouvir, seja em forma de sinfonia muito bem estudada, ou em vídeo-tosco-que-da-ibope no youtube.
Hoje as novas epidemias que surgem semanalmente se baseiam na imagem, nas roupas, acessórios, maquiagens, cabelos esquisitos (e quanto mais esquisitos melhor!), músicas que sejam diferentes, ritmos quebrados, com referência em grandes astros do passado, mas que no fim não tem nada a ver uma coisa com a outra. Na grande maioria é isso, é uma Sociedade do Espetáculo que Debord já falava, é o show mais do que a música (será que Bethoven precisaria de um canal do youtube para se tornar conhecido?).
A conclusão que chego depois desse meu apontamento conturbado, é que os tempos mudaram sim, e as formas de expressões estão muito mais ligadas à imagem, seja ela visual e até sonora, do quanto mais, melhor. Quanto mais justo (falo das calças), quanto mais bizarro (falo dos cabelos), quanto mais barulhento (falo da bateria e das guitarras), quanto mais tecnológico (falo dos efeitos sonoros), quanto mais tudo (falo do esganiçado), mais será vendido, mais será aceito pelos pré e pós adolescentes. Este público que leva uma geração nas costas, que cria ideias, que faz história, e que principalmente, que tanto se expressa.
No fim espero que esta epidemia continue, porque se é mais difícil criar qualquer coisa comparável aos grandes monstros sagrados da música, hoje em dia é mais difícil criar algo que seja diferente, que inove, pois esse é o objetivo das novas bandas que se criam na garagem da tia do vizinho, e que depois caem direto para a internet, inovar, ser diferente, independente do quão ridículo você precisa ser para que isso aconteça. Se antes a música enchia nossa alma pela sua melodia, pelo seu ritmo, que pelo menos hoje ela encha nossa vida com um pouco mais de risos, seja com um vídeo no youtube, seja olhando o vestuário de quem as canta ou seja pela sua criação em si, de uma melodia ritmada com os barulhos de uma nova sociedade do espetáculo.


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