28 maio 2009

O apartamento antigo

Como eu adorava aquele apartamento. Como eu adorava aquelas paredes pintadas de bege claro, como eu adorava aquele carpete cinza. A cozinha de azulejos brancos e reluzentes, o banheiro com azulejos decorados com flores. Era um lugar tão espaçoso e tão meu.
Tinha elevador e 6 andares, em uma avenida movimentada. Eu era tão pequena, mas sentia que aquele lugar sempre pertencera a mim. Sempre fizera tão parte de mim.
Dizem que tudo que é bom acaba. E era a hora de sair dali, sair do meu apartamento amado. Como podiam fazer isso? Por que aquilo estava acontecendo? Diziam que seria preciso mais espaço. Tinha até gente que perguntava se eu teria ciúmes do irmãozinho que viria. Que irmão? Eu estava alheia a tudo aquilo. Precisava dos meus pais, claro, mas mais ainda daquele apartamento.
O novo apartamento estava localizado em uma área nobre da cidade. Era bonito e era maior do que o antigo. Mas parecia frio, e não digo frio de temperatura, mas frio de ambiente. Tudo era tão sofisticado, bem acabado... eu gostava da informalidade, da simplicidade, da cara de apartamento antigo que meu antigo lar tinha.
Vivi naquele apê chique e frio de ambiente por muitos anos, eu, meus pais e o irmão que aprendi a amar. Éramos - e somos - uma família feliz. Os filhos cresceram e, nada mais natural, quiseram buscar sua independência. Meu irmão e eu fomos pra universidade, começamos a trabalhar, a conquistar nossas pequenas coisas.
Procurei muito por um apartamento. Não precisava ter muitas coisas, podia ser de um só quarto, só um cantinho para poder chamar de meu. Foram meses juntando dinheiro, meses procurando. Mas tem coisas que são ironia do destino - se não são, não sei mais o que são.
Aquele antigo apartamento no qual morei estava desocupado. Creio que tenha ficado desocupado por muitos anos, não havia nenhuma mudança radical nele - se havia, eu não lembrava, depois de umas duas, três décadas. Eu, bem mais crescidinha, via que o apartamento espaçoso só seria espaçoso de fato para uma criança que está descobrindo o mundo (e os móveis, as paredes...) ao seu redor. No entanto, ao entrar na sala, uma nostalgia inexplicável tomou conta de mim, a ponto de me emocionar. Eu estava redescobrindo a sensação de ter um canto verdadeiramente meu.
Moro neste apartamento até hoje, sozinha, e recebo visitas de vez em quando. Meus pais lembram com saudade dos tempos em que viviam apenas eles e a filha única; e meu irmão gosta do lugar, mas nenhum dos três têm tamanho apreço por este imóvel como eu. Posso dizer que, apesar de não ter estado aqui por todos os anos de minha vida, este lugar tão especial e peculiar representa o mais incomum amor que já senti.

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