11 abril 2009

Atividade - sem título 01 (11/04/2011)

No início tudo era lindo.
Eu acordava com vontade daquilo.
Eu comia pensando naquilo.
Eu não dormia pensando naquilo.
Conforme o meu tempo passava, e eu o conhecia direito, aquilo já não era tão estimulante.
Aquele sentimento murchou, e ficou junto com o conto de pena, o meu tamagoshi e o rádio de pilhas.
Tudo recordações, imagens já meio desbotadas de lembranças de muito tempo. Mas agora nada mais tinha o mesmo brilho, a mesma graça.
No rádio, toca-fitas. Nas fitas, gravações mal cortadas de músicas antigas que tocavam no rádio.
Agora usava as pilhas para tirar fotos.
Mas do que mais gostava, dentre aquele bolo de objetos guardados de momentos antigos da sua vida era o isqueiro antigo que herdara do avô. Ele colecionava isqueiros de todos os países, mas o de prata era o preferido. Ainda bem que desistira da ideia de tê-lo dado de presente para ele. Hoje em dia eles nem se falavam mais.
Que viagem, que viagem é tudo isso.
Ah, viagem! Lembrou-se do inverno que passaram em Nova York, depois de um tempo juntando o dinheiro. Logo, encontrou algumas lembranças da viagem: fotos da Estátua da Liberdade, folhetos da Broadway, o ingresso do jogo de basquete que assistiram juntos - ele não gostava tanto de basquete...
Basquete era bom com música. E ela não ficava com sono - pelo contrário. Mas momentos assim eram de outra categoria. Ela separava os momentos em categorias. Agora não era mais aquilo, basquete. Não se falavam mais, mas eram saudosas as tardes na praia em maio. Casas fechadas, ruas vazias, o começo do frio, ninguém mais. O som suave das músicas escolhidas a dedo para aquelas tardes também suaves. Outra categoria de momentos. Pra sempre na memória guardados no baú das lembranças, cadeados na saudade do tempo que não volta mais.
Pensava sozinha em tudo que passou e não lembrava o motivo do fim. Condenada a dias tediosos, sem belas canções nem abraços repentinos, ela comia para não chorar, bebia com amigos para não se deprimir, tentava de todas as maneiras seguir vivendo buscando a beleza nas coisas pequenas, o sentido daquele vazio.
Perdeu tanto tempo com memórias que esqueceu de viver. Não tinha mais 18 anos, mas tinha muitos pés-de-galinha. Não tinha mais amor pra dar, nem amor-próprio. A lembrança de um momento inesquecível consumir sua juventude. Sua história terminou quando devia ter começado.

Este texto faz parte da atividade ocorrida em 11/04/2011. Saiba mais.
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