23 maio 2009

linha-vida e o dia 12/10

Manuela, 8 anos. Meiga, inteligente, acostumada a acompanhar os pais em tudo e a viver com conforto. Passear no shopping é um hábito para ela. Comer McLanche Feliz, olhar as vitrines... Às vezes, andava pelos corredores com um brinquedo ou uma roupa novos. Manu curtia sua infância daquele jeito. Seus pais eram bons para ela e bem-intencionados, claro, mas trabalhavam tanto que a diversão mais "ao alcance" que podiam proporcionar para a filha era essa. Até mesmo em viagens ela era quase deixada de lado, quase tratada como adulta. Ela estava e não estava com seus pais. Sentia-se sozinha. "Como, uma guria que tem tudo do bom e do melhor?"
...
Manuela, 15 anos. Sonha em fazer intercâmbio e não aceita mais a companhia dos pais superprotetores que jamais tiveram tempo para brincar com ela. Quer sua independência, embora não saiba como obtê-la e ainda seja imatura, apesar de (como todo bom jovem da idade) achar o contrário. Vive num universo paralelo, num canto só seu: seu computador, suas músicas, sua cama, suas paredes rabiscadas, suas coisas, seus desabafos no papel. Não tinha problema. Estava acostumada com a solidão. Principalmente a interna.
...
Manuela, 25 anos. Vive um dia marcante, daqueles que mudam a vida radicalmente. Pensa no seu passado de frequentadora assídua de shopping: as pessoas tão diferentes e tão iguais; os vendedores aborrecidos pelo trabalho exaustivo. Pensa nos pais, que não vê há tanto tempo. Tem saudade deles, mas ainda guarda um pouco de mágoa. Pensa em reconciliação. Pensa em mudar de vida, mas não sabe se conseguirá mudar seus valores burgueses. Pensa nos últimos meses, tão turbulentos e confusos. Pensa no agora, na serenidade que invade sua alma.
Pensa em Pedro, o serzinho que carrega em seu colo. É 12 de outubro e o bebê tem poucas horas. A jovem mãe quer que seu filho tenha o melhor futuro que uma mãe pode desejar, mas que não repita a infância de Manuela. Pedrinho merece uma infância livre, na qual ele possa tomar banhos de sol e banhos de chuva, na qual ele possa correr, cair da bicicleta, subir em árvore, brincar de esconde-esconde. Manuela se enche de esperanças e planos. Mesmo ela já tendo passado da infância há muito tempo, sabe que aquele dia 12 de outubro é o seu dia. O dia de aprender a ser feliz de verdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário