22 outubro 2010

Poeminha nostalgico

Eu sou toda vícios
Vícios de linguagem
De saudade
De desespero
E manias de perseguição
Tenho a rotina do sofrimento
A cada pessoa que vai embora
Como se atirasse uma pedra
Naqueles dias que passarão.
É tão marcante, que até no Velho Mundo
É possível sentir saudade (daqui).
Lembranças clarinhas e sem brilho,
Iluminam o rapazinho,
Que brincava com a avó
E lembra-se do cheiro da velha morta
Alguns anos depois
No talco que a dona limpa o seu bebê.
Lembrou-se da infância e do colarinho
Manchado de batom
Do pai cretino,
E das piadas tristes dos vizinhos.
Ah!


O tempo é uma angústia sem fim.
Júlia Fraguas

18 outubro 2010

um pouco de mim, distante

Gosto de caminhar na praia e de pensar na vida e nas coisas. Quase sem querer, distancio-me da área de banho; distancio-me da área de pesca; distancio-me de casinhas, cadeiras e guarda-sóis. Prefiro andar dentro da água, ao invés da areia quente e fofa.

Essa é a forma que eu encontrei de me distanciar do mundo e também de mim. Com a imensidão do oceano (quantas distâncias são possíveis de se imaginar através dele?), fico próxima das palavras que não falo, nem escrevo. Apenas penso: resoluções de começo de ano, reflexões sobre o passado, diálogos imaginados... Tantas histórias, o dia ensolarado e a(s) praia(s) semi-deserta(s) ao longo dos quilômetros.

Minhas caminhadas na praia são, quando muito, anuais. Ah, se eu tivesse a sorte de encurtar as distâncias Porto Alegre-Mostardas e meus pensamentos-mar e areia, diariamente...  Nem poderia descrever a sensação de paz.

12 outubro 2010

É uma longa jornada

Ontem Eu decidi me afastar de Mim para procurar respostas. Eu é essência, Mim é carne. O meu fim é Eu Mesmo - a essência intocada -, sendo Mim o ponto de partida. A distância entre Eu Mesmo e Mim eu desconheço, porém este desconhecimento me fascina. É uma guerra de personalidades, e o que me destrói é que Marcel é o campo de batalha. Não sei quem vencerá, só sei que ao longo do caminho perderei pedaços, e quanto mais tempo levar, mais pedaços perderei.

(Porém temo, temo não percorrer essa distância a tempo de conseguir me postar de pé)

terceiras intenções

Eu não sei o que escrever sobre distância, porque distância é abrangente demais. Eu estou distante de uma série de coisas de que às vezes eu gostaria de estar perto. Outros países, outras pessoas, outros lugares. Mas, uma vez nesses lugares, eu me pergunto se, então, não gostaria de estar perto das coisas que estão aqui agora.

11 outubro 2010

I love the sound of you walking away

Eu te vi indo embora do baile da semana passada quando não reparasse nos meus sapatos de salto alto, nas unhas vermelhas e no meu cabelo plissado. Eu fui fumar cigarros com os outros garotos e a cada baforada eu espiava para ver onde tu estavas, mas então chegou a hora da baladinha e me perdi em delírios de bocas e mãos que se tocavam, a minha saia que escorregava pelas minhas pernas, que se prendiam às tuas e eu escutava o barulho das coisas caindo no chão enquanto tu me jantavas sobre a mesa de comer. A gente começou pelos doces beijos e foi para as salgadas bebidas que eram oferecidas pelos nossos corpos. Ah, que banquete foi aquele! Mas então tu já estavas na porta indo embora, e eu reparei como eu te adoro. Mas eu te adoro mais ainda quando tu não estás aqui.


Alessandra Boos

Amantes

Quando perguntavam há quanto tempo estavam juntos, ele prontamente respondia:

- Somos amantes a mais de vinte e cinco anos.

Não raras vezes se podia notar o suspiro de quem escutava a resposta, um casal com tanto tempo de relacionamento, ainda cultivava o fogo dos amantes.

Parece romântico caro leitor?

Pois não é.

Ele é casado com outra mulher há trinta e dois anos, tem um cachorro, quatro filhos e dois periquitos.

07 outubro 2010

Sozinha em casa

Tão longe da plenitude
Continuo procurando pela juventude do nosso romance
Vamos trazer todas as nossas memórias aqui pra dentro
Lá fora está tão frio,
O frio do desamparo pode danificar
E o ônus, vai acabar, vai acabar.

- Eu estou morrendo de saudade de te amar – o marido pelo telefone.
- Te beijar, tirar tuas roupas, te pegar pelos cabelos... – a mulher.
- Te olhar novamente, analisar o brilho dos teus dentes – a distância faz ele querer amá-la ainda mais.
- Abrir tuas pernas de repente, ir devagar, até a goela. – ela não agüenta mais esperar.
- Te fazer a janta quente, te dar carinho como se estivesse doente – imagina com afeto.
- Te enlouquecer, te fazer gemer até ouvir teus gritos de prazer... – enlouquece sozinha, e resolve se amar.

Sozinha também.


Júlia Fraguas

Te amo na distância

Pensando bem, amor, meu grande amor, isso não é amor. Um reflexo da distância, simples como o da água, distorcido com o vento, imaginário.

Essa impossibilidade de estar junto, de amar todos os dias, de ouvir a voz e de sentir o corpo dele por perto, estimula o amor. É a falta que alimenta o romance. A saudade cria histórias inexistentes. Quanto menos te vejo, mais belo pareces. A distância cresce e fermenta teus atributos. Imaginação cretina e ingrata. Faz essencial tudo que é impossível.

Amor não resiste à distância, não. Ele se enche de pó, de teias de aranha, de ontem. Amor embrutece com o vazio. Ele se distorce até apresentar outra forma, outro. Te amo na distância, mas não é amor... Ou não é tu.

04 outubro 2010

Amantes

E amava antes.