29 abril 2009

Duas músicas

Não sei tocar instrumento. Até arrisco cantar - um pouco. Ouço música o tempo todo e sempre estou com alguma na cabeça. Não conheço a música, mas acho que ela me conhece. Pode ser rock, jazz, reagge, clássica...
Enfim, melodia que toca... me toca, me dá passos, me faz dançar.Durante a tarde, o pássaro canta, a chuva bate na janela, a criança grita na pracinha, o elevador chega no andar, a página é virada, alguém digita no computador, a moto passa...
Música do cotidiano que passa despercebida.
Grita, suspira, chora, clama, ri.
Melodia da vida.

28 abril 2009

Quem disse que o homem não voa?

Sabe quando você sonha que está voando?
Do alto, você vê tudo mais claro, mais amplo. Você vê além, vê onde o mar e o céu se encontram – horizonte. Contempla as belezas e as tristezas da terra. Lá em cima, há mais liberdade para pensar, opinar, fantasiar, imaginar…
Escrever é como ganhar asas. Observar tudo ao redor e transformar em palavra, poesia, texto. Nuvens, estrelas, lágrima, sorriso, lápis, guarda-sol, pássaros. Tudo é uma nova razão de voo.
Quem disse que o homem não voa?
Eu escrevo.

27 abril 2009

Mentira

Todos têm um dom, todos sabem fazer alguma coisa em especial que outros poucos conseguem, meu irmão, por exemplo, imita perfeitamente a voz do Pato Donald, é o dom dele. Durante muito tempo me perguntei qual seria meu dom, qual seria o presente que a fada madrinha entregou para aquele bebezinho gorducho que nasceu em maio de oitenta e cinco.
Pois bem, não faz muito tempo descobri meu dom, sei que o Ronaldinho já sabia de seu talento com a bola aos oito anos de idade, mas nunca é tarde para encontrar seu dote natural, meu avô só se descobriu um exímio gaiteiro depois dos sessenta. Meu dom não é um daqueles de que eu possa me vangloriar ou me exibir para os outros, posso sim tirar proveito dele em algumas situações da vida, mas pretendo usá-lo com moderação.
Sou um excelente mentiroso, essa é a dádiva que ganhei de Deus, ou da mãe natureza, ou de quem quer que seja. Minto com uma naturalidade que me assusta. Por isso escrevo, para gastar meu dom em algo que não vai fazer mal a ninguém, escrevo para usar minha fantasia na fantasia das minhas histórias. Escrevo para mentir e também minto para escrever.

Eu escrevo

Por dias estive pensando: por que, afinal, eu escrevo? Não buscava uma resposta bonita para justificar os poemas nos guardanapos de bar, mas algo verdadeiro. E, certa madrugada, ela veio: eu escrevo porque sinto.
Sinto o calor do sol e a dor do corte. Sinto o cheiro das rosas que ele enviou e a saudade de minha casa. E sinto muito por ter errado. Nas vezes em que não consigo falar o que estou sentindo, me consola poder escrever. Então escrevo que a luz do dia me faz feliz e que adoro o jeito que ele me olha. E escrevo cartas de perdão.
Escrevo porque sou feliz e sou triste, porque sinto coisas demais e não sei separar. Porque, no fundo, espero que as palavras me façam compreender o incompreensível. Façam com que a dor cesse e o amor se multiplique. Escrevo porque sinto e sou. Eu dou vida aos meus pensamentos com a ponta de um lápis e é isso que me faz existir. Existir além do senso comum, ser o pai que perde a filha e ser também a princesa apaixonada. Ser a trapezista que sonhei na infância e ser o cachorro que não tenho. Ser a menina que quer mudar o mundo e ser o garoto apaixonado pelo melhor amigo. Ser tudo e todos por algumas linhas, alguns parágrafos. Porque, no fundo, eu não sei quem sou. Porque eu sou o que penso. E cada uma das palavras que escrevo são uma parte de mim.
Escrevo porque sou as personagens que crio e sou as lágrimas que deixo cair sobre o papel.
Eu escrevo para viver.

Por que escrevo?

Por que escrevo? Eu, a mais quieta da família, a mais quieta da turma, a que gosta de pessoas, mas também gosta do seu canto (e de ficar nele, por consequência). Eu, que passei por situações bem difíceis e guardei meus sentimentos sobre isso por muito tempo. Eu, que aprendi a ler e a escrever mais cedo que a maioria das crianças - e tais atos nunca saíram de mim, como se fossem inerentes (afinal... são?).
O tempo (não muito distante) e outras atividades estimuladoras (como fazer teatro) talvez fizeram-me perder o estigma de "mais quieta da família" - algo que adotei para mim mesma por achar apropriado, até. Pode ser que eu tenha me tornado um pouco mais comunicativa - mas não falante de fato, a não ser em ocasiões muito espontâneas.
Tentei manter um diário, isso com uns 13, 14 anos. Relatei meus dias por uns 3 meses e desisti porque já não escrevia mais todos os dias. Algum tempo depois, copiando a ideia de minha prima-irmã (certamente, quem mais presencia meus momentos falantes), fiz de um caderno o meu diário. Ainda uso esse caderno para escrever coisas que não me atrevo a escrever na internet por considerar pessoal demais. Fiz até poemas amadores na minha fase fico-na-Administração-ou-vou-fazer-Relações-Públicas-?. Uns dois meses de dilema e muitas palavras depois (no meu blog, no caderno e em bloquinhos que sempre levo comigo), tomei minha decisão e sinto-me muito bem neste recomeço.
Quando comecei a escrever num blog antigo, em 2006, considerei a escrita como uma terapia mesmo, mas pode ser mais do que isso, como a Natalie Goldberg diz. Agora, pensando melhor na pergunta, chego a uma resposta: porque tenho coisas a escrever das quais nem sei e que as descobrirei ao longo do tempo.

11 abril 2009

Atividade 2011 - 01

Atividade dos objetos.

Atividade - sem título 01 (11/04/2011)

No início tudo era lindo.
Eu acordava com vontade daquilo.
Eu comia pensando naquilo.
Eu não dormia pensando naquilo.
Conforme o meu tempo passava, e eu o conhecia direito, aquilo já não era tão estimulante.
Aquele sentimento murchou, e ficou junto com o conto de pena, o meu tamagoshi e o rádio de pilhas.
Tudo recordações, imagens já meio desbotadas de lembranças de muito tempo. Mas agora nada mais tinha o mesmo brilho, a mesma graça.
No rádio, toca-fitas. Nas fitas, gravações mal cortadas de músicas antigas que tocavam no rádio.
Agora usava as pilhas para tirar fotos.
Mas do que mais gostava, dentre aquele bolo de objetos guardados de momentos antigos da sua vida era o isqueiro antigo que herdara do avô. Ele colecionava isqueiros de todos os países, mas o de prata era o preferido. Ainda bem que desistira da ideia de tê-lo dado de presente para ele. Hoje em dia eles nem se falavam mais.
Que viagem, que viagem é tudo isso.
Ah, viagem! Lembrou-se do inverno que passaram em Nova York, depois de um tempo juntando o dinheiro. Logo, encontrou algumas lembranças da viagem: fotos da Estátua da Liberdade, folhetos da Broadway, o ingresso do jogo de basquete que assistiram juntos - ele não gostava tanto de basquete...
Basquete era bom com música. E ela não ficava com sono - pelo contrário. Mas momentos assim eram de outra categoria. Ela separava os momentos em categorias. Agora não era mais aquilo, basquete. Não se falavam mais, mas eram saudosas as tardes na praia em maio. Casas fechadas, ruas vazias, o começo do frio, ninguém mais. O som suave das músicas escolhidas a dedo para aquelas tardes também suaves. Outra categoria de momentos. Pra sempre na memória guardados no baú das lembranças, cadeados na saudade do tempo que não volta mais.
Pensava sozinha em tudo que passou e não lembrava o motivo do fim. Condenada a dias tediosos, sem belas canções nem abraços repentinos, ela comia para não chorar, bebia com amigos para não se deprimir, tentava de todas as maneiras seguir vivendo buscando a beleza nas coisas pequenas, o sentido daquele vazio.
Perdeu tanto tempo com memórias que esqueceu de viver. Não tinha mais 18 anos, mas tinha muitos pés-de-galinha. Não tinha mais amor pra dar, nem amor-próprio. A lembrança de um momento inesquecível consumir sua juventude. Sua história terminou quando devia ter começado.

Este texto faz parte da atividade ocorrida em 11/04/2011. Saiba mais.
Veja outros textos desta atividade aqui.

Atividade - sem título 02(11/04/2011)

Era mais um daqueles dias que se acorda sem saber se é de manhã ou de tarde, morrendo de sede, com dor de cabeça e com o sol batendo no rosto, lembrando-lhe que "ta na hora de comprar cortinas".
Na noite passada, houveram tantas coisas que não conseguia lembrar, que fui buscar registros na minha máquina.
Entre as várias imagens dos amigos, algumas ela nem lembrava que tinha sido fotografada. Tinha um vídeo louco também em que ela aparecia cantando enlouquecidamente "Beautiful Day" do U2 e ela se quer lembrava daquilo. Bizarro. Olhou para o dedo que ardia e lembrou que o queimara na fogueira, enquanto eles assavam marshmallow.
Vendo as fotos, não conseguira parar de rir. Que noite memorável. Sem dúvidas, foi uma grande despedida. Todos os amigos presentes, alguns que há anos não se viam, reunidos para lhe desejar boa viagem.
Ainda sentia o calor da fogueira, o brilho das estrelas, a erva subindo à cabeça e começando a fazer efeito. Nunca havia experimentado - e se perguntou como conseguiu viver tanto tempo sem.
Música, música, música. Ela estava rouca, mas ainda cantava. Feliz. Ah, a vida é tão linda, tão bela. E a felicidade estava logo ali, ao apertar o play, ao dar uma tragada, ao entornar uma garrafa de vinho, ao fazer tantas outras coisas. Ligou o rádio e foi para cozinha atrás de Coca. A vida é mesmo maravilhosa, e cheia de surpresas.
Uma Coca-Cola e uma perna humana cerrada. Aflita procurou memórias, registros, qualquer coisa que explicasse o fato. Não achou nada. Percebeu no carpete manchas que não deveriam estar lá. O que há? Qual o segredo disso tudo? Se perguntava. Voltou a olhar os vídeos, as alucinações daquela noite ficaram marcadas na memória, procurava lembrar cada detalhe... Foi naquela noite que ele disse adeus? Ou foi depois?
Engraçado, já não lembrava os momentos mais marcantes daquilo que parecia amor. Comeu alguma coisa para não pensar mais.
Quando pediu uma prova de amor não era prova física, mas sabia que aquele ex-presidiário maluco que a atormentou por tanto tempo e aparecera de surpresa na festa poderia estragar os planos. No rádio, ouviu o anúncio de uma morte estranha, um homem sem um membro estava nú e morto enrolado em arame farpado em cima de uma árvore, exatamente onde eles se conheceram há alguns anos.
Resolveu tomar um banho, na esperança de tirar aquele peso de suas costas. Deixou por 10, 15, vinte minutos a água apenas escorrer pelo seu corpo. Quando voltou a cozinha, não encontrou mais nada, nem perna, nem arames, apenas um copo de coca pela metade.
Pois bem, era mais um daqueles dias que não se sabe se está dormindo ou acordada. Escolheu estar dormindo.

Este texto faz parte da atividade ocorrida em 11/04/2011. Saiba mais sobre a atividade.
Veja outros textos desta atividade aqui.

09 abril 2009

Temas 2009

Confira os temas que rolaram no clube no ano passado.

Tema 01: “Porque eu escrevo?”

Tema 02: “Música“

Tema 03: “O que eu nunca escreverei“

Tema 04: “Conte o melhor dia das crianças da sua vida“

Tema 05: “Amores Incomun”

Tema 06: “Sonhos”

Tema 07: “Velório!

Tema 08: “Medo”

Tema 09: “Autenticidade”

Tema 10: “Lembrança de infância mais antiga”

Tema 11: “Quem sou eu? O que cada um pensa sobre si”

Tema 12: “Perdidos no DACOM”

Tema 13: “Frio”

Tema 14: “Coragem”

Tema 15: “Saudade”