18 junho 2010

Nova York e Solidão

Nova York e solidão: são como sinônimos porque um remete ao outro, ao menos para quem mora em NY. Mas quem não mora lá sabe que a solidão é algo que acompanha em todos os lugares, sejam grandes cidades ou pequenos vilarejos. A diferença é que nas metrópoles há grande e real necessidade de esconder tal sentimento - porque quem é bem-resolvido não fica triste, mas sempre feliz. Ele ficava às vezes triste às vezes feliz, e nas vezes em que não se enquadravam nas vezes da felicidade, ele atuava: inaugurando todo o dia uma nova peça de teatro para qualquer novo espectador (fosse de Manhattan ou Nova Delhi - apesar de não conhecer ninguém de Nova Delhi). Em Nova York há solidão, tanto quanto em Nova Delhi. E nas ilhas também. Em certas ilhas há vulcões em erupção. Ele era um vulcão a explodir, sempre pronto, sempre a postos

A postos de uma nova máscara
máscara de uma ida
farsa de tua sobrevida.
Solidão corrói,
ainda mais
sem ser repartida.

Toma posse o presidente Obama, mas isso não faz diferença, porque solidão não sai por decretos, não adquire novos tetos - está sempre ali. Ele era uma pessoa solitária, mas a solidão lhe fazia companhia: e isso por si só tão logo lhe bastava. Basta a monotonia, viva toda a alegria. Foi visitar a Estátua da Liberdade para trocar de vida - fingir ser turista. Porém antes de pegar a fila, parou, porque de turistas todos temos um pouco, ficando só de passagem nessa estranha e viva vida. Além de turistas, também prisioneiros: duma rotina que nos segue como fantasma atrás dum alimento que nem nós sabemos. Então ele parou e depois sentou pensou que deveria voltar - a algo que não sabia mas lhe fazia bem: rotina. Que previne inseguranças e não lhe traz nada de errado. Lançou-se ao lago quando poderia ser rio: calmo quando seria agiado: parado quando em movimento.

Movimento nos sistemas
de possibilidades improváveis
mas que graças a algo
não o são.
Sem um porquê
aparentemente inexplicável.
Sem um sentido
quando não se é pra tê-lo.

Mas assim ele fez. Quando poderia lançar-se ao mar, lançou-se ao lago, limitiado mas ainda conhecido. Muitas águas rolaram, muitas águas rolariam:
pena que todas já tão conhecidas.
Voltou para casa e para uma vida que, sem Ele saber, nunca transcorreria qualquer grande emoção.
Viveu em paz para sempre.

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