22 setembro 2009

Infância (des)conhecida

1991. Amália e a cidadezinha interiorana. As ruas de paralelepípedos, os canteiros de flores, os vizinhos conhecidos da família e de toda a cidade. Aquela rua específica, uma das entradas principais do município. O dia nublado, ameaçando uma chuva forte. A quadra ainda mais pacata, mais deserta. Amália fora de casa, na esquina, descobrindo o mundo. Insistente que era, queria experimentar uma nova visão além. Avançando pela calçada, vislumbrou a torre da igreja em frente à praça - não ficava muito longe dali. Contemplou por poucos segundos até que...
... o despertador toca. Mais um dos sonhos de infância-não-vivida-daquele-modo de Amália. Não se lembrava de já ter estado em uma cidade tão pequena antes. Seria uma vida passada? Seria uma inspiração para um conto? Seria uma forma de aviso, um sinal para Amália prestar atenção em detalhes que poderiam ser importantes?
Desceu ao sótão de sua casa: o atelier de pintura. Diversos quadros não acabados, a inspiração que aparecia e sumia repentinamente. Sem nem pensar muito, começou um novo quadro. Procurou reproduzir fielmente a rua, a igreja, a menina de costas, o canteiro, os paralelepípedos, a calçada. E, enquanto concluía, pensava na possibilidade do quadro representar a lembrança de alguém tão inesperado como seu sonho.

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