14 junho 2011

Das mágoas e pedras

Por desejar muito chorar, entrei em conflitos nos últimos dias.

Quando criança, qualquer tristeza era motivo de choro, e qualquer choro limpava a alma. Chorava até cansar, até doer a cabeça, até pesar os olhos, até esgotar todo sentimento ruim. Até esquecer e voltar a sorrir.

Hoje em dia, sinto um acúmulo de decepções, mágoas e frustrações que pesam feito pedras. Recentemente me peguei tentando forçar o choro, numa vontade enorme de expelir a dor, porque era o que acontecia antes. Não consegui.

Com a idade percebi que nossas mágoas são mais profundas e complexas, mas ao mesmo tempo, são mais fáceis de serem encaradas porque nos acostumados – aliás, o grande segredo da vida, o ato de se acostumar. E, quando finalmente consigo chorar, poucas são as lágrimas, e elas já não lavam mais nem fazem esquecer. Não podendo tirar as pedras de mim, carrego-as como história.

Daí, num dia recente, eu me deparei com mais um desses episódios que sucedem as fases boas da vida. Os dias ruins, os dias chuvosos, as vacas magras - como queiram - estavam por vir. Nada mais cotidiano. A grande diferença, desta vez, estava em mim. Foi uma decepção, não menos dolorosa que as outras, mas que aconteceu sem surpresa alguma. Eu já esperava. Ou melhor, aprendi a não esperar muito da vida e das pessoas.

Então aqui estou eu escrevendo, mais uma vez, por uma mágoa sem lágrimas que não passa, só se esconde. E esperando que ela também se solidifique através do fator - outrora o choro - que mais me castiga porque mais demora a reagir, o tempo.

Um comentário:

  1. Velhice triste essa. Conformar-se deveria ser proibido. Mas é tudo tão verdadeiro que poesia nem teoria nenhuma consegue argumentar.

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