Clube da Escrita - Fabico
07 outubro 2012
11 outubro 2011
22 junho 2011
Círculo
- Envelheça comigo - uma mão no meu ombro e outro no meu braço do lado oposto. Pedi que repetisse, não sei se pelo enunciado soar fora de contexto ou se pela vontade de que colocasse a boca perto do pescoço novamente, sei que pedi e ouvi de novo as mesmas palavras. Um pouco de receio tive. Entretanto, controlei o temor e fui extrair o que podia, indaguei: "e como será sua velhice?". Rodeada de pessoas gentis, respondeu, talvez vivendo em uma casa com alguém que amasse, usufruindo daquilo que obtive na vida e nas tentativas de dar a volta em mim mesmo. Foi uma resposta boa, pensei na hora, tomando como inusitado aquele diálogo em meio às mesmices de sempre, as pessoas cantando, dançando e se encarando como cadelas no cio loucas para. Amargura um pouco ver recortes dos passos de lobos encarando seus carneiros que almejam com todas as forças se tornarem lobos por mais que nunca o possam, visto que, uma vez carneiro, sempre carneiro, a vivência de lobo é de algo deveras escura e misteriosa, não a ponto de instigar a descobrir, mas sobretudo naquele sentimento que nos move pela fuga.
Moveu-se pela pista e voltou com uma bebida, o álcool que degrada, instalando-nos mais perto daquilo que chamam de época branca cujo principal hábito será reclamar das músicas altas e sem qualidade dos jovens de hoje, jovens que não fazem nada além de frequentar os mesmos locais, ouvir as mesmas músicas e viver as mesmas sensações, acreditando saber da novidade. Bebeu um gole e perguntou-me outra vez, envelhece comigo? E respondi rápido que nem sei se quero amanhecer com você, quem dirá envelhecer
quem dirá saber de minha vida de depois
como se um baú todo cheia de roupas
onde as traças adoram se meter
formando buracos, armando barracos
sem se esquecer de meus velhos trapos
cujos pedaços em uma era já vesti
e guardo fotos como pequenos recordos
dos bichinhos que em mim já habitaram.
Habitou-me e eu em seu contrário. No meio da madrugada fui-me embora, pensando em que na semana que vem o mesmo lugar teria uma festa boa, e no outro final de semana também; aliás, todo o mês estava perfeito naquele lugar, os donos possuem uma boa visão de negócio...
*
Vários anos se passaram. Nunca mais apreendi qualquer coisa que me fizesse recordar desta noite, até o dia em que, com meu Amor Maior, trocamos juras de eternidade e prometemos morrer juntos sem nos importarmos com as eventuais quedas de cabelo. A vida é uma sequência de ilusões, refleti.
20 junho 2011
Muita felicidade
Somos parecidos nisso, não gostamos de regras nem de médicos. Mas o que pra ti vai ser uma opção, pra mim vai ser uma cruz. A pele vai se modificar, os momentos de dor e fraqueza vão se intensificar, e não vou mais conseguir botar a culpa na umidade ou no excesso de trabalho. Então alguém muito chato me obrigará a ir ao médico e tudo vai ficar claro. Porque a vida não tem nada de maravilhoso, nem de romântico, ela acontece enquanto tu sonha e acaba logo, muito rápido quando se é um grande sonhador. Vai ser tarde, vou me martirizar por nunca ter notado, por nunca ter procurado saber e eles vão dizer que a batalha é difícil, que se tivesse descoberto antes... E eu nunca vou chegar a viver aquela velhice tranqüila e matreira. Vou morrer de câncer tão rápido que só vocês irão se lembrar de mim.
Poeira
19 junho 2011
O mundo dentro de uma caixa - Parte 01
O mundo dentro de uma caixa - Parte 02
14 junho 2011
Das mágoas e pedras
Por desejar muito chorar, entrei em conflitos nos últimos dias.
Quando criança, qualquer tristeza era motivo de choro, e qualquer choro limpava a alma. Chorava até cansar, até doer a cabeça, até pesar os olhos, até esgotar todo sentimento ruim. Até esquecer e voltar a sorrir.
Hoje em dia, sinto um acúmulo de decepções, mágoas e frustrações que pesam feito pedras. Recentemente me peguei tentando forçar o choro, numa vontade enorme de expelir a dor, porque era o que acontecia antes. Não consegui.
Com a idade percebi que nossas mágoas são mais profundas e complexas, mas ao mesmo tempo, são mais fáceis de serem encaradas porque nos acostumados – aliás, o grande segredo da vida, o ato de se acostumar. E, quando finalmente consigo chorar, poucas são as lágrimas, e elas já não lavam mais nem fazem esquecer. Não podendo tirar as pedras de mim, carrego-as como história.
Daí, num dia recente, eu me deparei com mais um desses episódios que sucedem as fases boas da vida. Os dias ruins, os dias chuvosos, as vacas magras - como queiram - estavam por vir. Nada mais cotidiano. A grande diferença, desta vez, estava em mim. Foi uma decepção, não menos dolorosa que as outras, mas que aconteceu sem surpresa alguma. Eu já esperava. Ou melhor, aprendi a não esperar muito da vida e das pessoas.
Então aqui estou eu escrevendo, mais uma vez, por uma mágoa sem lágrimas que não passa, só se esconde. E esperando que ela também se solidifique através do fator - outrora o choro - que mais me castiga porque mais demora a reagir, o tempo.
13 junho 2011
pa papa pa pa
12 junho 2011
A guerra.
Qualquer ruído seria esclarecedor. Prova de choque.
Olhei para o relógio. Apontava perigo.
Olhei para os dois lados em busca de inimigos. Mesmo aqueles que se pareciam fora de rota. Muito suspeitos.
Se demonstrassem interesse, sairia correndo. Não era fuga, era vitória.
As armas: sabonete e toalha.
Tomar banho às 22h numa casa de estudantes não é fácil.